quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Segredos e Mentiras

Historicamente, o uso feminino de maquiagem no rosto tem sido inquietante para os homens, mas obstinadamente instransigente. Na Roma antiga, o poeta Martial escreveu: 'Você não passa de um composto de mentiras. Enquanto você estava em Roma, o seu cabelo estava crescendo nas margens do Rhine; à noite, quando se deita sem seus mantos de seda, se deita também sem seus dentes; e dois terços de sua pessoa são trancados em caixas durante a noite... Portanto nenhum homem pode dizer Eu amo você, pois você não é o que ele ama, e ninguem ama o que você é.' Ovídio alertou: 'Seu artifício deve permanecer insuspeito. Como não sentir repugnância diante da pintura espessa em sua face se dissolvendo e escorrendo até seus seios? Por que tenho de saber o que torna sua pele tão alva?'

Líderes da Igreja expressaram indignação. São Jerônimo escreveu: 'O que faz essa coisa púrpura e branca no rosto de uma mulher cristã, atiçadores da juventude, formentadores da luxúria, e símbolos de uma alma impura?' Clemente de Alexandria declarou que aquelas que usavam perucas estavam impossibilitadas de receber a bênção do Senhor porque a bênção ficaria na peruca e não penetraria a pessoa: 'Pois sobre quem o presbítero põe a mão? Quem ele abençoa? Não a mulher enfeitada, mas o cabelo de outra, e através dele, outra cabeça.'

No fim do século XVIII, passou pelo Parlamento inglês uma lei que tentava impor sobre as mulheres a mesma penalidade por adorno que era imposta por bruxaria, desobrigando os maridos que haviam se casado essa máscara falsa. 'Todas as mulheres... que a partir deste ano tirarem vantagem, seduzirem ou atrairem ao matrimônio qualquer súdito de Sua Majestade por meio de perfumes, pinturas, cosméticos, loções, dentes artificiais, cabelo falso, lã da Espanha, espartilho de ferro, armações para saias, sapatos altos ou anquinhas, ficam sujeitas à penalidade da lei agora em vigor contra a bruxaria e contravenções semelhantes e que o casamento, se condenadas, seja anulado.' A lei era inexequivel.


Em 1711, o jornal britânico The Spectator publicou a carta de um marido aflito que dizia, em parte: 'Senhor, (...) estou pensando em largar minha Mulher, e acredito que, quando o senhor considerar o meu caso, a sua Opinião será a de que minhas Pretensões ao Divórcio são justas (...) nunca um Homem foi tão apaixonado como eu fui de sua fronte, Pescoço e Braços alvos, assim como da cor de Azeviche de seu Cabelo, mas para meu Espanto, descobri que era tudo Efeito de Arte: sua pele é tão opaca com essa Prática, que quando acordou pela primeira vez em uma Manhã, mal parecia jovem o suficiente para ser a Mãe de quem levei para a cama na noite anterior. Tomarei a liberdade de deixá-la na primeira oportunidade, a menos que seu pai torne sua fortuna apropriada às suas verdadeiras, e não supostas, feições'

Reis mandavam pintores visitarem suas pretendentes matrimoniais e trazerem retratos. Embora esses casamentos fossem "arranjados", de olho na melhoria de status (unir territórios ou famílias poderosas), a aparência da mulher era considerada importante. Henrique VII da Inglaterra nos dá uma breve visão do que esses reis estavam procurando. Além do retrato oficial, ele pedia a seu círculo social íntimo que respondesse a um extenso questionário sobre a futura esposa, incluindo instruções tais como "assinalar a aprovação de seu rosto", anotar "se está pintada ou não" e "assinalar se há algo perto de seus lábios ou não".

Elizabeth I, a Rainha Virgem

Mulheres aristocratas e da realeza não demonstravam, suspostamente, interesse na aparência de seu marido, mas pediam e recebiam retratos com frequência. Elizabeth I recusou-se a se casar com quem ela não visse. Mas acabou rejeitando todo mundo e morreu como a Rainha Virgem. Até o fim, gostou de flertar seus súditos, a face coberta de branco, as maçãs do rosto pintadas com círculos vermelhos, a cabeça coberta por uma peruca de cabelo ruivo e dourado. Talvez insegura da eficácia disso tudo, recusou-se a se olhar no espelho durante os últimos 20 anos de sua vida.

3 comentários:

  1. E olha que nessa época não existia silicone, bronzeamento artificial, dentes de porcelana, mac, clareamento a laser... etc.

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  2. adorei o trecho "vc não passa de um composto de mentiras". rá!!!
    no final somos todas devotas da vaidade, fúteis e narcisistas. wow! delícia de verdade.
    minha tataravó passava carvão, depois a bisa o rouge e graças a deus hje existem os bronzants; ahahah.
    mto bom esse post, brit.
    bjos.

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  3. Líderes da Igreja expressaram indignação.
    foi meu trecho
    meu destino
    maravilha

    ^^

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