"Uma mentira muitas vezes repetidas, torna-se verdade" - Joseph Goebbels
De quatro em quatro anos, sempre que se aproximam os jogos olímpicos, invariavelmente a imprensa pública a história de Jesse Owen e de Hitler. Repetem sempre a mesma e inverídica história: Hitler, o arauto da superioridade racial ariana, teria se negado a cumprimentar o vitorioso velocista norte-americano, por esse ser negro. As quatro medalhas de ouro obtidas por Owens eram uma bofetada no mito de superioridade alemã, coisa que o Führer não poderia aceitar. Essa lenda, que perdura já há 60 anos, foi criada por jornalistas esportivos norte-americanos durante os próprios Jogos Olímpicos de 1936, que estavam sendo realizados em Berlim.
Vamos então aos fatos. Devido à infame campanha anti-semita dos nazistas, várias comissões esportivas, especialmente a norte-americana, a inglesa e a francesa ameaçaram boicotar os jogos. Hitler então, para não empanar o espetáculo, resolveu dar uma trégua aos judeus. Proibiu a circulação do jornal anti-semita “Der Stürmer”, do hidrófobo Julius Streicher e permitiu que alguns judeus participassem na delegação alemã (como a esgrimista Helena Mayer e o jogador de hóquei Rudi Ball). Não só isso, encarregou um outro judeu, o capitão Wolfgang Fürstner, de organizar a Vila Olímpica. O mundo liberal respirou aliviado, autocongratulando-se por sua pressão ter resultado algum efeito. Iniciados os jogos, com a entrada triunfal de Führer no estádio de 110 mil pessoas, ele, entusiasmado, tratou de não perder nenhuma competição importante. Quando a primeira medalha de ouro foi conquistada por um atleta alemão, o arremessador Hans Wölke, Hitler foi pessoalmente cumprimentá-lo. Na mesma ocasião congratulou-se com mais três fundistas filandeses e duas atletas alemãs.
Foi então que o Presidente do Comitê Olímpico resolveu intervir. Disse a Hitler que ele, na qualidade de convidado de honra, deveria doravante ou cumprimentar todos os atletas vencedores ou não felicitar mais nenhum. Como não podia estar presente a todos os momentos em que os campeões eram agraciados, Hitler optou então por não descer mais da tribuna de honra.
Quando Jesse Owens ganhou as medalhas, Hitler já tinha tomado a sua decisão. E, ao contrário de ter-se mostrado indignado, abanou efusivamente para o grande atleta. Nas palavras do próprio Jesse: “Quando eu passei, o Chanceler se ergueu, e acenou com a mão para mim: eu respondi ao aceno...”
A razão do gesto é muito simples. O Nazismo exaltava acima de tudo, em seu profundo antiintelectualismo, o vigor físico e a estampa, não importando qual fosse a raça. Aquele que revelasse alguma musculatura e virilidade, harmonizada num belo corpo, tinha sua imediata aprovação. Tanto isso é fato que Leni Rienfenstahl, a cineasta do regime, quando depois da guerra resolveu auto-exilar-se na África, fez uma notável bateria de fotos celebrando a plástica dos retintos núbios.
A ironia dessa história é de quem de fato discriminava os negros (que na Alemanha nazista eram olhados como atraentes excentricidades) era a delegação norte-americana, que os segregavam durante os próprios jogos olímpicos. E mesmo quando a guerra eclodiu uns tempo depois, eram os norte-americanos quem não permitiam que os batalhões negros acampassem misturados aos brancos. Joe Louis, o campeão mundial de boxe, convocado para a luta, era obrigado a andar na parte traseira dos ônibus militares.
Mas lenda é lenda. Preparem-se pois para que no ano 2000, na outra Olimpíada, lerem de novo a história de Jesse Owens e de como Hitler saiu furioso do estádio!
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