Mostrar que os jovens do interior têm uma vivência tão rica
e variada quanto os da cidade, é o forte do filme
Divulgação
Atores em cena de "Antes que o Mundo Acabe", de Ana Luiza Azevedo
A premiada curtametragista gaúcha Ana Luiza Azevedo costuma dizer que “um filme vem de uma ideia”. Ela aplica à risca sua filosofia em seu primeiro longa, “Antes que o Mundo Acabe”, que exibe um punhado de boas ideias bem executadas ao longo de pouco mais de uma hora e meia. Para ela, uma das coisas mais fortes em seu filme é mostrar que os jovens do interior têm uma vivência tão rica e variada quanto os da cidade. “Acredito que essa seja minha contribuição”, disse ao UOL Cinema.
O filme, porém, tem ambição bem maior do que apenas retratar a vida de jovens do interior. A diretora sabe que o grande desafio que tem pela frente é chegar ao coração do público de seu filme e vencer dois preconceitos envolvendo adolescentes e adultos. “O público jovem sempre foi um pouco negligenciado pelo cinema brasileiro, por isso é tão distante. Eles são muito motivados por aquilo que está em evidência. Então, boa parcela acaba vendo apenas os grandes sucessos americanos”.
Esse panorama, no entanto, parece caminhar para uma mudança gradual. Há poucas semanas estreou em circuito “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky, que tem como personagens centrais um grupo de adolescentes de classe média alta da cidade de São Paulo. O de Ana Luiza leva às telas amigos da mesma faixa etária morando numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. Em comum está a forma como as duas diretoras pesquisaram para fazer seus filmes.
Os dois filmes usaram um método bastante parecido: muita conversa com jovens sobre o seu universo, suas experiências, expectativas. Enquanto fazia oficinas para a escolha de atores, Ana permitiu que esses próprios adolescentes dessem alguns palpites no roteiro que liam. “Absorvemos muitos elementos deles, muitas coisas que eles nos contavam e sugeriam. Creio que isso traz uma grande verdade para o filme, faz com que os personagens sejam pessoas de verdade, não apenas criações que saíram da cabeça de alguém”.
Como ressalta a diretora, isso deu segurança à equipe. “O pessoal jovem mostrava muito interesse pela história quando lia o roteiro. Há alguns elementos de suspense e isso os instigava a querer saber como a questão de um roubo na escola, por exemplo, seria resolvida no final. O trabalho com eles também nos ajudou nos diálogos. Pudemos incorporar o jeito como os adolescentes de hoje falam, as gírias, as expressões”.
Mais segura por conta dessa cooperação estreita com os jovens, Ana continuava intrigada sobre como seria a recepção do filme pelos adultos. A resposta veio em julho do ano passado, quando “Antes que o Mundo Acabe” estreou no 2º Festival de Paulínia, de onde saiu com diversos prêmios, entre eles de direção, fotografia (para Jacob Solitrenick), e da crítica. “Eu achava que os adultos se identificariam com os pais dos personagens. Mas que nada, eles foram tomados por alguma nostalgia. Todo mundo vinha me falar que saiu do filme lembrando da adolescência, do primeiro fora amoroso, do primeiro porre”.
O roteiro, que é creditado a Ana, Giba Assis Brasil (também montador do longa e marido da diretora), Paulo Halm e Jorge Furtado, é baseado no romance homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, mas traz algumas mudanças radicais logo de início. O texto original se passa em Porto Alegre, ao contrário do longa, em que a capital do estado se transforma num sonho distante ou numa possibilidade de futuro para os jovens personagens. “Eu sou do interior e tinha essa experiência. Aliás, dos roteiristas, sou a única que não é de cidade grande, por isso pude colaborar muito nesse sentido”, comemora.
Além disso, para compor o elenco juvenil, a equipe da diretora passou a procurar possíveis atores estreantes em cidades do interior do Rio Grande do Sul, onde se passa a história, e onde o filme seria rodado – “não há nenhuma cena feita em estúdio, é tudo locação”, ressalta a diretora. “Depois de vários testes, foram selecionados 30 adolescentes. Metade deles formaria uma classe de estudantes que aparece no filme.”
Entre eles, estava Pedro Tergolina, que já havia trabalhado com a diretora no curta “Dona Cristina Perdeu a Memória”. Ele acabou ficando com o papel principal. Como o ator é de Porto Alegre, precisou viver um tempo no interior para se adaptar ao mundo do personagem. “Ele experimentou a rotina de quem vive numa cidade pequena. Acho que descobriu muita coisa que levou para o filme”.
Os atores jovens fizeram algumas oficinas mas, em alguns casos, não precisaram de preparação alguma. “Acho que quando o assunto é amor, a gente não precisa ensaiar nada, isso vem com naturalidade”. No filme, Pedro, Eduardo Cardoso e Bianca Menti vivem um triângulo amoroso – algo à la “Jules e Jim”, o famoso filme de François Truffaut. Ana conta que eles estavam tão envolvidos que até desconfia que possa ter ocorrido algo fora das telas. “Se aconteceu de verdade eu não sei não, mas os dois meninos estavam muito encantados com ela. Isso a gente percebia”, confidencia.
Essa química entre o trio, aliás, foi uma das coisas que mais encantou a diretora no processo de filmagem. “Quando a gente chega num set e os atores assumem aquilo que está no papel, tudo meio que sai de controle. Eles tomam conta do personagem e trazem um frescor para o filme. Isso é muito bom, porque, às vezes, a gente está envolvida com uma história há tanto tempo que precisa dessa carga nova para revitalizar”.
Além de estar engajada no lançamento de “Antes que o Mundo Acabe”, que acontece em 14 de maio no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e nas semanas seguintes em outras cidades do país, Ana trabalha também com uma série do canal a cabo HBO, “Mulher de Fases”, na qual assina a direção, ao lado de Marcio Schoenardie.
O filme, porém, tem ambição bem maior do que apenas retratar a vida de jovens do interior. A diretora sabe que o grande desafio que tem pela frente é chegar ao coração do público de seu filme e vencer dois preconceitos envolvendo adolescentes e adultos. “O público jovem sempre foi um pouco negligenciado pelo cinema brasileiro, por isso é tão distante. Eles são muito motivados por aquilo que está em evidência. Então, boa parcela acaba vendo apenas os grandes sucessos americanos”.
Esse panorama, no entanto, parece caminhar para uma mudança gradual. Há poucas semanas estreou em circuito “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky, que tem como personagens centrais um grupo de adolescentes de classe média alta da cidade de São Paulo. O de Ana Luiza leva às telas amigos da mesma faixa etária morando numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. Em comum está a forma como as duas diretoras pesquisaram para fazer seus filmes.
Os dois filmes usaram um método bastante parecido: muita conversa com jovens sobre o seu universo, suas experiências, expectativas. Enquanto fazia oficinas para a escolha de atores, Ana permitiu que esses próprios adolescentes dessem alguns palpites no roteiro que liam. “Absorvemos muitos elementos deles, muitas coisas que eles nos contavam e sugeriam. Creio que isso traz uma grande verdade para o filme, faz com que os personagens sejam pessoas de verdade, não apenas criações que saíram da cabeça de alguém”.
Como ressalta a diretora, isso deu segurança à equipe. “O pessoal jovem mostrava muito interesse pela história quando lia o roteiro. Há alguns elementos de suspense e isso os instigava a querer saber como a questão de um roubo na escola, por exemplo, seria resolvida no final. O trabalho com eles também nos ajudou nos diálogos. Pudemos incorporar o jeito como os adolescentes de hoje falam, as gírias, as expressões”.
Mais segura por conta dessa cooperação estreita com os jovens, Ana continuava intrigada sobre como seria a recepção do filme pelos adultos. A resposta veio em julho do ano passado, quando “Antes que o Mundo Acabe” estreou no 2º Festival de Paulínia, de onde saiu com diversos prêmios, entre eles de direção, fotografia (para Jacob Solitrenick), e da crítica. “Eu achava que os adultos se identificariam com os pais dos personagens. Mas que nada, eles foram tomados por alguma nostalgia. Todo mundo vinha me falar que saiu do filme lembrando da adolescência, do primeiro fora amoroso, do primeiro porre”.
O roteiro, que é creditado a Ana, Giba Assis Brasil (também montador do longa e marido da diretora), Paulo Halm e Jorge Furtado, é baseado no romance homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, mas traz algumas mudanças radicais logo de início. O texto original se passa em Porto Alegre, ao contrário do longa, em que a capital do estado se transforma num sonho distante ou numa possibilidade de futuro para os jovens personagens. “Eu sou do interior e tinha essa experiência. Aliás, dos roteiristas, sou a única que não é de cidade grande, por isso pude colaborar muito nesse sentido”, comemora.
Além disso, para compor o elenco juvenil, a equipe da diretora passou a procurar possíveis atores estreantes em cidades do interior do Rio Grande do Sul, onde se passa a história, e onde o filme seria rodado – “não há nenhuma cena feita em estúdio, é tudo locação”, ressalta a diretora. “Depois de vários testes, foram selecionados 30 adolescentes. Metade deles formaria uma classe de estudantes que aparece no filme.”
Entre eles, estava Pedro Tergolina, que já havia trabalhado com a diretora no curta “Dona Cristina Perdeu a Memória”. Ele acabou ficando com o papel principal. Como o ator é de Porto Alegre, precisou viver um tempo no interior para se adaptar ao mundo do personagem. “Ele experimentou a rotina de quem vive numa cidade pequena. Acho que descobriu muita coisa que levou para o filme”.
Os atores jovens fizeram algumas oficinas mas, em alguns casos, não precisaram de preparação alguma. “Acho que quando o assunto é amor, a gente não precisa ensaiar nada, isso vem com naturalidade”. No filme, Pedro, Eduardo Cardoso e Bianca Menti vivem um triângulo amoroso – algo à la “Jules e Jim”, o famoso filme de François Truffaut. Ana conta que eles estavam tão envolvidos que até desconfia que possa ter ocorrido algo fora das telas. “Se aconteceu de verdade eu não sei não, mas os dois meninos estavam muito encantados com ela. Isso a gente percebia”, confidencia.
Essa química entre o trio, aliás, foi uma das coisas que mais encantou a diretora no processo de filmagem. “Quando a gente chega num set e os atores assumem aquilo que está no papel, tudo meio que sai de controle. Eles tomam conta do personagem e trazem um frescor para o filme. Isso é muito bom, porque, às vezes, a gente está envolvida com uma história há tanto tempo que precisa dessa carga nova para revitalizar”.
Além de estar engajada no lançamento de “Antes que o Mundo Acabe”, que acontece em 14 de maio no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e nas semanas seguintes em outras cidades do país, Ana trabalha também com uma série do canal a cabo HBO, “Mulher de Fases”, na qual assina a direção, ao lado de Marcio Schoenardie.
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